“Por quê você não gosta de política?” Esta é a pergunta que o R7 Notícias vem fazendo em uma enquete simples com seus leitores. No início de maio de 2016 o site já havia acumulado a resposta de 296 pessoas, destas 188 responderam que não gostam porque “política é sinônimo de corrupção”. Em segundo lugar, com 53 pessoas, ficou o argumento de que “os temas discutidos e os projetos do Congresso são fora da realidade”. Ainda outros motivos chamam atenção: 36 pessoas responderam “Porque acho chato” e a menos escolhida, por 19 pessoas, foi “Porque não acho que política pode mudar minha vida”. Entenda por que nenhum desses motivos pode justificar não gostar de política:
1. Política não é corrupção
As pessoas se acostumaram a chamar de “políticos” os deputados, senadores, ministros, entre outras pessoas que ocupam funções do governo. Mas política na verdade não se trata de pessoas, e sim de sistema. Conforme o cientista político Noberto Bobbio, política pode ser definida como o conjunto de atividades referentes ao governo (Estado). Ela é também a prática dos valores da sociedade. Entender a política como corrupção é uma atitude que pode ser causada pelas notícias de destaque nos jornais. A cobertura de política nos noticiários mais populares prioriza escândalos de corrupção. Se as notícias sobre política são em maioria denúncias sobre corruptos, as pessoas vão confundir as coisas. Existem notícias boas, e elas dependem de uma ampla e diversificada leitura de diferentes informativos.
2. A política manda no seu dinheiro
Historicamente, momentos em que há um grande número de pessoas nas ruas estiveram relacionados ao cenário econômico do país. São exemplos o processo de impeachment do Collor, da Dilma e até mesmo o início das manifestações de junho de 2013, marcada pela crítica ao aumento das tarifas de ônibus em São Paulo. As decisões econômicas estão diretamente ligadas as atividades políticas. A inflação, por exemplo, foi considerada a segunda maior preocupação dos brasileiros em 2016, conforme pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria. A forma de controlar a inflação é uma das questões discutidas na política, que podem ser influenciadas pelos eleitores através do voto e pressão social sobre propostas econômicas.
3. É mais chata a política ou a falta de escolha sobre a própria vida?
“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”, disse o filósofo Platão. Seguir regras sem concordar ou ser impedido de tomar as próprias decisões é uma das consequências de quem não gosta de política. Se as mulheres não gostassem de política, por exemplo, não teriam o direito de dirigir, estudar e votar até os dias de hoje. Os trabalhadores, não teriam férias, pagamento de horas extras e aposentadoria. E assim seguem os interesses dos homossexuais, índios, negros, entre outros grupos com interesses específicos.
4. Quanto maior a participação política, melhor é o governo
Em 1993, um professor americano publicou um livro que influenciou profundamente a política. Robert Putnam, dava aulas na universidade de Harvard, e é um dos cientistas políticos mais influentes. Ele estudou as origens de um governo eficiente observando como as pessoas se organizavam para cobrar seus interesses. Depois de uma longa pesquisa analisando os conselhos regionais da Itália, ele identificou que quanto maior a consciência política de uma pessoa, mais ela participa de associações e organizações, quanto maior quantidade de pessoas envolvidas em organizações e associações de um estado, por exemplo, maior é a sua cultura cívica, que é basicamente o engajamento e a participação. Uma sociedade com maior cultura cívica tem um governo mais eficaz e igualitário. É nessa relação, de “uma coisa puxa a outra” que Putnam definiu o conceito de capital social, que é o conjunto de características como o sistema, as normas, relações de confiança e igualdade de uma sociedade. A postura em frente à política define o capital social de um país, e quem não se envolve contribui para que as coisas não melhorem.
5. O voto é político e obrigatório
Em 2014, uma pesquisa do Data Popular ouviu 3.500 jovens de 16 a 33 anos e identificou que apenas quatro em cada dez deles consideram que entendem de política. Apesar disso, 92% acreditam que possuem capacidade para mudar o mundo e 70% acreditam que o voto pode transformar o País. Não é contraditório? Afinal, votar bem e mudar o mundo depende de um bom embasamento político, já que isso pressupõe entender o que é o bem social e as melhores formas de exercê-lo. O voto, momento crucial da democracia, é um privilégio conquistado com luta no Brasil. Até quem é contra a obrigatoriedade dele precisa ser politizado o bastante para defender seus argumentos.